Segurar os cacos firmemente, pegando-os um por um. Talvez me cortar, quem sabe. Ver meu sangue escorrer, tirar disto alguma beleza poética, por mais gótica que pareça, como um vilão de novela.
Um misto de loucura e desejo. Uma insanidade consciente. Tendo a noção do que se ocorreu, mas tentando fingir que um outro lado, mais desequilibrado, consegue reinar sobre a razão da consciência pragmática.
É claro que não, quando se tem consciência da loucura, esta deixa de ser insensatez e passar a ser mera ousadia. Mas a sensação de enganar a si mesmo vale a pena. Vale fingir que é fraco, para se sentir mais forte, mesmo sem querer.
O que, no fundo, nos mostra como somos dependentes de raciocínios que não esforçamos para montar. Eles apenas estão semiprontos, construídos pela nossa cabeça que se utilizou, involuntariamente, da nossa experiência.
Ignorando tudo isso. Olho, com os olhos encharcados, a jarra de vidro esparramada, me contento com tais atos e me levanto. Satisfeito, lavo as mãos, deixo os cacos e sigo a vida.